Atualizada em 16/04/2025
O que fazer se uma colônia de abelha nativa se instalar em local urbano “indesejado”?
As abelhas-nativas-sem-ferrão (ANSF) possuem ferrão atrofiado e, como são insetos sociais, formam colônias que podem ser construídas nos mais diversos locais, a depender da espécie. Normalmente em árvores ou no solo ou em cupinzeiros desocupados, etc. Na área urbana, é comum se instalarem em muros, paredes, caixas d’água ou de eletricidade, mourão de cerca, calçadas, etc. Como ainda existe muito desconhecimento sobre elas, comumente suas colônias (e até mesmo as abelhas) são confundidas com as das espécies que ferroam e podem gerar acidentes: a abelha africanizada (Apis mellifera), espécie exótica, ou vespas (marimbondos). Devido a isso, muitas são destruídas sem ao menos ser verificado do que se trata, se há de fato ameaça ao bem-estar ou à saúde da população e quais as consequências dessa destruição para o meio ambiente.
Ao perceber que uma colônia se instalou em local que considere indesejado, jamais utilize veneno ou fogo! Procure contatar algum apicultor, meliponicultor ou alguma associação de criadores de abelhas e envie fotos e/ou vídeos da colônia para saber qual tipo de inseto está instalado: abelha nativa, abelha africanizada ou vespa. Em caso de urgência, procure o Corpo de Bombeiros.
As abelhas nativas são animais silvestres, protegidas por lei. O extermínio de suas colônias é crime ambiental (Leis de Proteção à Fauna N° 5.197 de 1967 e de Crimes Ambientais N° 9.605 de 1998).
Caso seja constatado que se trata de colônia de abelha nativa (Figuras 1 e 2), é necessário conhecer a espécie para saber qual providência tomar. São poucas as espécies que podem causar algum tipo de transtorno que impossibilite a convivência pacífica com as mesmas. Embora não ferroem, as mais defensivas podem importunar os transeuntes mordiscando e enrolando nos pêlos ou cabelos. Nesse caso, o ideal é a colônia ser removida por apicultor ou meliponicultor experiente, que geralmente cobram pelo serviço de acordo com o grau de dificuldade (por exemplo, estar em um local de difícil acesso, etc). O mesmo critério é válido para as vespas (Figura 3).

Figura 1 – Colônia de ANSF da espécie lambe-olhos (Leurotrigona muelleri) dentro de tubo de telefonia.

Figura 2 – Colônia de ANSF da espécie guaxupé
(Trigona hyalinata) na superfície de uma parede externa.

Figura 3 – Colônia de vespas.
Caso seja constatado que se trata de colônia da abelha africanizada, que é bastante defensiva e pode causar acidentes graves, duas situações são possíveis:
1) Se você viu ou ouviu as abelhas chegarem e se aglomerarem formando uma “bola” (o tamanho varia em função do número de abelhas) em alguma árvore, parede ou outro local na área externa, pode se tratar de um enxame migratório (Figura 4): grupo de abelhas operárias acompanhadas da rainha. Este tipo de situação costuma acontecer no DF nos meses de julho a setembro, época da reprodução da espécie, ou quando a colônia foi desalojada por conta de chuva, desmatamento ou fogo. Os enxames migratórios costumam fazer pausas esporádicas para descanso, por até três dias, antes de seguirem viagem para um local definitivo. Apenas nesta situação oferecem pouco risco, pois não têm filhotes ou alimento estocado para proteger.
2) Se o aglomerado de abelhas está no local há mais de três dias ou instalado em cavidades, árvores (Figura 5), forros, lajes, telhados, depósitos, etc., a situação se torna mais preocupante e será necessário contatar um apicultor para fazer a retirada da colônia, serviço geralmente cobrado a depender do grau de dificuldade. Quanto mais tempo a colônia ficar alojada, mais difícil (e cara) será a remoção. Os bombeiros podem fazer a retirada, mas nem sempre dispõem de equipamentos para prevenir que a colônia seja danificada.

Figura 4 – Enxame migratório de abelhas africanizadas.
Baixo risco de ferroadas e acidentes mais graves.

Figura 5 – Colônia da abelha africanizada já instalada.
Alto risco de ferroadas e acidentes mais graves.
Vamos conhecer para conservar?
Espécies de ANSF que mais comumente se instalam em edificações urbanas:
O Distrito Federal possui 41 espécies de ANSF identificadas até o momento: 35 de acordo com o Anexo Único da Lei Distrital 7.311/2023 e as demais depositadas na Coleção Entomológica do Depto. de Zoologia da UnB-DZUB (clique aqui para conhecê-las). Dentre elas, apenas a de nome popular caga-fogo (Oxytrigona cagafogo) (Figuras 6 e 7) tem o mecanismo de defesa mais perigoso, que consiste em expelir ácido fórmico no(a) suposto(a) invasor(a), podendo provocar graves queimaduras na pele (Figura 8). A caga-fogo dificilmente se instala na zona urbana e, ainda assim, é possível uma convivência harmônica com ela, desde que sua colônia não seja importunada.

Figura 6 – Abelha tataíra (Oxytrigona cagafogo).

Figura 7 – Entrada da colônia da abelha tataíra (Oxytrigona cagafogo), em forma de fenda.

Figura 8 – Queimaduras provocadas pela abelha tataíra (Oxytrigona cagafogo).
Veja mais abaixo as espécies de ANSF com colônias mais comumente encontradas na área urbana.
A espécie de ANSF mais comumente encontrada com colônia instalada em edificações urbanas é a abelha jataí (Tetragonisca angustula) (Figura 9), a qual não oferece risco. Quando estão em processo reprodutivo, dezenas de machos se aglomeram próximos à entrada da colônia (Figura 10). Isso pode assustar as pessoas, mas os machos sequer tentam se defender quando importunados.

Figura 9 – Abelha jataí (Tetragonisca angustula) em grade de parquinho infantil.

Figura 10 – Aglomerado de machos da abelha jataí (Tetragonisca angustula) próximos à entrada (não-visível) da colônia na época de enxameação. São inofensivos.
jataí |
Grau de defensividade: muito baixo. |
Locais de nidificação: cavidades em árvores, paredes, muros, caixas de telefone/energia, fornos, gavetas, latas, botas, etc. |

mirim |
Grau de defensividade: baixo. |
Locais de nidificação: cavidades em árvores, paredes, muros, etc. |

jataí-da-terra |
Grau de defensividade: baixo. |
Locais de nidificação: no solo, em formigueiros e cupinzeiros abandonados, etc. |

iraí |
Grau de defensividade: baixo. |
Locais de nidificação: cavidades em árvores, paredes, muros, calçadas, etc. |

mandaguari |
Grau de defensividade: médio. |
Locais de nidificação: cavidades em árvores, paredes, etc. |

borá |
Grau de defensividade: médio. |
Locais de nidificação: cavidades em árvores, composteiras, etc. |

arapuá |
Grau de defensividade: alto. |
Locais de nidificação: entre galhos de árvores, estacas, etc. |

guaxupé |
Grau de defensividade: alto. |
Locais de nidificação: superfícies planas como paredes, muros, caixas d’água, árvores grossas, etc. |

A AMe-DF promove a educação ambiental e incentiva a criação responsável das abelhas-nativas-sem-ferrão (ASF ou ANSF) por meio de cursos, palestras, lives com pesquisadores(as), acadêmicos(as) e meliponicultores(as), campanhas publicitárias, exposições e atividades junto a escolas, órgãos públicos, etc. Apoie nossa causa filiando-se à AMe-DF e/ou patrocinando as nossas ações.
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