Problemas com Enxames

Roberto Montenegro

Adquirir um novo enxame nos traz uma enorme alegria, mas muitas vezes essa alegria dura pouco. Infelizmente, não é incomum que um enxame adquirido, seja uma divisão ou uma “matriz muito forte”, venha a definhar e morrer em pouco tempo. São muitas as causas possíveis, cuja responsabilidade pode ser do vendedor, do comprador ou de ambos.

Grande parte dos problemas diz respeito ao processo de multiplicação (ou divisão) de um enxame, quando interferimos em sua regulação interna. Nesse processo, comumente alguns discos de cria maduros (ou nascentes) são retirados do enxame mãe para formar uma nova colmeia. Em uma divisão 1×1, por exemplo, parte das campeiras ficará com a nova colmeia. Assim, teremos um desequilíbrio momentâneo em ambos os enxames: o enxame-mãe terá menos campeiras e também menos abelhas jovens nascendo (por conta dos discos retirados) e o enxame-filho terá que eleger uma nova rainha, aguardar sua fecundação, providenciar a construção de potes para armazenamento de alimento e células de cria, além de aguardar o amadurecimento das larvas alojadas nos discos mais novos. Essa instabilidade momentânea traz risco a ambos os enxames até que eles se estabilizem, o que irá ocorrer entre 90 e 120 dias após a divisão (o equivalente a dois ou três ciclos de subida/descida de postura). Passado esse período deverá haver em ambos os enxames boa reserva de alimentos, abelhas em quantidade suficiente para manter o funcionamento da colmeia e a rainha realizando postura plenamente. Até que isso ocorra, muito cuidado e atenção foram dedicados aos enxames pelo meliponicultor, consumindo seu tempo e recursos financeiros.

No entanto, há meliponicultores que, por má fé ou negligência, não respeitam o tempo necessário para que a matriz se restabeleça ou a divisão se desenvolva adequadamente. Anunciam seus enxames precocemente, sem nenhum compromisso ético com as abelhas, e transferem o risco para o cliente. Alguns vendedores fazem a divisão sobre um ninho vazio e mostram a postura do segundo módulo (sobreninho) “topando” no acetato. Vendem como matriz algo que na verdade é uma divisão. Há casos ainda mais graves, onde enxames são retirados criminosamente da natureza, divididos no momento da transferência para a caixa racional e vendidos poucos dias depois. Basta ao suposto vendedor apresentar um enxame com muitas abelhas e com um invólucro sobre o ninho e pronto! O resultado é a perda desnecessária de enxames e prejuízos ao comprador.

Às vezes o vendedor cumpriu a sua parte, vendendo um enxame devidamente “estabilizado”, mas é o comprador quem atua de forma prejudicial, enfraquecendo e matando o enxame. Como? Instalando a caixa em local inadequado ou sem proteção (excesso de calor, umidade, chuva etc.), abrindo a caixa imediatamente após sua instalação ou mudando o enxame de lugar sem o devido cuidado (fazendo com que haja perda desnecessária de campeiras), abrindo a caixa e o invólucro com frequência (desregulando a temperatura interna), deixando de fornecer alimento ou fornecendo em demasia.

Quando ambos, vendedor e comprador, negligenciam suas responsabilidades, o risco de morte do enxame aumenta. Cabe então, a todos nós, praticarmos uma meliponicultura responsável e cuidarmos com zelo do bem precioso que são as nossas queridas abelhas nativas.

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